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terça-feira, 23 de maio de 2017

Memória de elefante

Assim como o primeiro beijo, o nosso primeiro show público a gente nunca esquece. É como se tivéssemos memória de elefantes, que nos ajuda a guardar mínimos detalhes que compõem grandes momentos. E é exatamente isso que nós, cadeirantes temos: uma incrível memória de elefante. Provavelmente, porque enfrentamos circunstâncias desanimadoras para viver aventuras, das quais quando resolvem desamarrar os seus nós buscamos sempre nos jogar de cabeça tirando proveito de cada segundo que existimos no interior de um sonho.
E sim, no show do Tiago Iorc me atirei de cabeça e cadeira de rodas e ele recompensou-me formidavelmente. As horas perante o palco, a emoção em que cada música me fazia vibrar por dentro e transpirar por fora valeram muito a pena. E sem contar os olhares das pessoas. Não eram aqueles de piedade, mas sim os de reconhecimento de que eu era um ser humano igual a eles, sabe?
Mas, tal reconhecimento não quer dizer que eu passei o show despercebida. É claro que existiram pessoas admiradas, acho que talvez maravilhadas por me virem lá. Tiveram curiosos que vieram até mim e minha amiga Lara nos sondar através várias indagações. Fui elogiada por diversos desconhecidos. Mas, o que me cativou mesmo foi quando um senhor com uma extrema simpatia e de um pouco menos da meia idade me perguntou se poderia dar um beijo na minha bochecha. Eu, gentilmente respondi que sim. Ele veio, me beijou e se despediu dizendo que eu era muito linda. Aquele gesto brando além de me encher de paz, engrandeceu os meus valores e me deixou tão feliz quanto conhecer o Tiago, pois já que sei que nem todo mundo tem essa atitude tentei apreciar o máximo o simples carinho que os “normais” dificilmente dão importância. Portanto, ao senhor de coração bondoso quero agradecer por ter feito a minha noite mais maravilhosa ainda e dizer que embora eu não tenha conhecimento do seu nome, um dia quero revê-lo e dessa vez, ser agraciada com um abraço pra lá de afetuoso.
Entretanto, ao contrário dos demais fãs, não fui ao show só tirar fotos e assistir o desempenho do profissional. Fui por algo maior, por enxergar através do Tiago Iorc uma chance de chegar ao meu objetivo de anos: o Caldeirão do Huck. Sendo assim, desde o primeiro instante assegurei com uma convicção absurda que eu iria conhecer o belo cantor e entregar uma carta relatando a minha história de vida para que ele repassasse ao Luciano Huck. Dito e feito! Falei com a organização contando o que eu almejava e solicitei ajuda para me levar ao lugar em que estaria antes do show. Eles me levaram e quando estive perto do Tiago, que ele me abraçou e beijou os meus olhos começaram a lagrimar, não por ver um grande ícone da MPB, mas por estar prestes a cumprir a minha missão inicial. No entanto, assim que comecei a dizer o porquê de estar em sua frente por decorrência do meu quase choro a voz embargou e eu travei. Mas, por já ter imaginado que poderia acontecer isso, pedi ainda fora do camarim para que minha amiga/irmã Lara me auxiliasse e eis a minha sorte! Apesar de também ter ficado com os olhos marejados de lágrimas por causa de mim, graças a Deus ela conseguiu transmitir resumidamente o que a emoção me impediu e a missão foi cumprida duplamente com sucesso.

Portanto, o beijo apaziguador daquele senhor, a forma em que me encontrei com o Tiago e toda a ajuda que eu tive para realizar mais um devaneio amalucado a minha memória de elefante sempre se encarregará de me fazer recordar e reviver com as melhores sensações possíveis.