A minha estatura é minúscula, mas
meus sonhos e esperança eu não consigo explicar a dimensão.
Bem, há algum tempo coloquei nos
meus planos de vida contar a minha história para o Brasil mais especificamente
em um programa nacional de televisão e daí um texto ganhou vida.
Eis ele aqui:
Alçando
mais um voo
Querido
Luciano, em minha concepção prevalece o impossível, os sonhos e o verbo acreditar.
Eu não saberia te explicar ao exato o porquê, mas uma coisa é certa: sonhos
impossíveis se tornam inexistentes quando se acredita.
Eu sempre soube
que Deus nos dá asas para alçarmos nossos voos o mais alto que pudermos e por
isso estou aqui escrevendo para sua digníssima pessoa.
Me chamo Rita
de Cássia, a (Ritinha), tenho 20 anos, sou escritora (pelos menos me considero como
tal rs) e sou muito feliz por ser diferente dos demais seres humanos. Possuo
uma paralisia infantil que ao invés de poder me destruir em todos os sentidos,
é ela o meu real motivo de nunca desistir quando se trata das realizações dos
meus devaneios. E o lugar onde moro? Cruzeiro do Sul, município do Acre. Muitos
dizem que você e sua produção não vêm até aqui, porém, eu creio que o que
importa para o caldeirão são as histórias e não os lugares, portanto tenho a
convicção de que mais cedo ou mais tarde vocês virão me conhecer.
Bem, foram meus avos paternos,
juntamente com o meu pai que me criaram desde pequena. Eles me acolheram com
muito amor, carinho e sempre zelaram por uma boa educação na minha vida.
Contudo, esse ano eu consegui proporcionar a eles um imenso orgulho: Sou a
primeira pessoa com a minha deficiência física a ingressar na Universidade
Federal do Acre, no curso de Letras-Português.
Luciano, é de
batalhas que se vive a vida, eu mesmo em uma cadeira de rodas já quebrei muitas
barreiras e fronteiras. Hoje graças a um anjo, o Aldinei que fez de suas asas
as minhas, eu brilho na dança, danço tudo o que desafiarem, mas o nosso número
mais emocionante mesmo é o balé. Sobretudo, não quero somente o mundo da dança
para brilhar e fazer a diferença, tenho um grande desejo de construir um mundo
mais acessível e melhor para as pessoas com necessidades especiais.
Hoje sou
conhecida e admirada na minha cidade e até outros municípios do estado por
persistir, almejar mais respeito, inclusão e atos solidários para o próximo que
seja diferente. Não temo colocar a boca no trombone quando não se tem
acessibilidade para um cadeirante nos recintos públicos e privados, fico
indignada quando vejo injustiças imperdoáveis com os que portam alguma
limitação visual, auditivo, entre outras. É triste você chegar ao conhecimento
que alguém fica aprisionada junto com todas as suas vontades em sua própria
residência, porque os lugares carecem de uma rampa de acesso, um piso ou
transporte especial, dos quais podem ser resolvidos de forma tão simples.
No Brasil Luciano, lutar pela questão de
uma acessibilidade de qualidade em todos os requisitos é complicado, quase
ninguém dar à mínima, infelizmente. No entanto, sou rodeada de anjos que
priorizam o meu bem e felicidade, eles são minha fortaleza que enche-me de
coragem, que me apoiam, me amam e se sensibilizam com os desafios que enfrento
ao me locomover nos lugares, por isso boa parte dos meus amigos já abraçaram e
brigam pela causa. Um deles, Weverton (uma das minhas bençãos de Deus) sempre
soube da minha vontade de criar um âmbito mais adequado, digno e com menos
constrangimentos para as pessoas com deficiência, foi aí que surgiu o projeto
“Acessibilidade por um mundo melhor”, um trabalho de conscientização que além
de querer ampliar o patamar da acessibilidade em todo o planeta, visa trabalhar
melhorando a saúde motora destes seres, o projeto quer também incentivar as
pessoas a não olharem para nós como coitadas, mas sim como exemplos de vida a
serem seguidos e que são merecedoras de respeito como qualquer outro dito
“normal”.
Sou sua fã, você tem um caráter
incrível, suas atitudes são inigualáveis, das quais sempre buscam ajudar o seu
próximo e é por esse motivo que aqui estou. Querido, dentro de mim existem
vários sonhos, entre eles estão: poder te contar a minha história de superação;
dançar o meu balé no seu palco; quero contar com a sua sensibilidade e ajuda para
a conscientização por mais acessibilidade e respeito a essa parte da população
que tanto necessita de alguém de pulso firme para travar grandes lutas por
elas; tenho muita vontade de conhecer o trabalho dos profissionais do centro de
reabilitação Sarah Kubitschek; e o meu maior sonho é ganhar os recursos necessários
para fundar o centro de reabilitação “Anjos” no meu município, pois nem todos
possuem condições financeiras ao ponto de custear um tratamento especializado.
Portanto, lembra da frase do início “Sonhos
impossíveis se tornam inexistentes quando se acredita.”? É acreditando nisso
que sei que você ouvirá essa história sendo contada por mim, aqui no Acre.
Não é mais #AnaClaraNoCaldeirao, agora é #RitaUmaCadeiranteFelizNoCaldeirao
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