Assim como o
primeiro beijo, o nosso primeiro show público a gente nunca esquece. É como se
tivéssemos memória de elefantes, que nos ajuda a guardar mínimos detalhes que
compõem grandes momentos. E é exatamente isso que nós, cadeirantes temos: uma
incrível memória de elefante. Provavelmente, porque enfrentamos circunstâncias
desanimadoras para viver aventuras, das quais quando resolvem desamarrar os
seus nós buscamos sempre nos jogar de cabeça tirando
proveito de cada segundo que existimos no interior de um sonho.
E sim, no show
do Tiago Iorc me atirei de cabeça e cadeira de rodas e ele recompensou-me
formidavelmente. As horas perante o palco, a emoção em que cada música me fazia
vibrar por dentro e transpirar por fora valeram muito a pena. E sem contar os
olhares das pessoas. Não eram aqueles de piedade, mas sim os de reconhecimento
de que eu era um ser humano igual a eles, sabe?
Mas, tal
reconhecimento não quer dizer que eu passei o show despercebida. É claro que
existiram pessoas admiradas, acho que talvez maravilhadas por me virem lá.
Tiveram curiosos que vieram até mim e minha amiga Lara nos sondar através
várias indagações. Fui elogiada por diversos desconhecidos. Mas, o que me
cativou mesmo foi quando um senhor com uma extrema simpatia e de um pouco menos
da meia idade me perguntou se poderia dar um beijo na minha bochecha. Eu,
gentilmente respondi que sim. Ele veio, me beijou e se despediu dizendo que eu
era muito linda. Aquele gesto brando além de me encher de paz, engrandeceu os
meus valores e me deixou tão feliz quanto conhecer o Tiago, pois já que sei que
nem todo mundo tem essa atitude tentei apreciar o máximo o simples carinho que
os “normais” dificilmente dão importância. Portanto, ao senhor de coração
bondoso quero agradecer por ter feito a minha noite mais maravilhosa ainda e
dizer que embora eu não tenha conhecimento do seu nome, um dia quero revê-lo e
dessa vez, ser agraciada com um abraço pra lá de afetuoso.
Entretanto, ao
contrário dos demais fãs, não fui ao show só tirar fotos e assistir o
desempenho do profissional. Fui por algo maior, por enxergar através do Tiago
Iorc uma chance de chegar ao meu objetivo de anos: o Caldeirão do Huck. Sendo
assim, desde o primeiro instante assegurei com uma convicção absurda que eu
iria conhecer o belo cantor e entregar uma carta relatando a minha história de
vida para que ele repassasse ao Luciano Huck. Dito e feito! Falei com a
organização contando o que eu almejava e solicitei ajuda para me levar ao lugar
em que estaria antes do show. Eles me levaram e quando estive perto do Tiago,
que ele me abraçou e beijou os meus olhos começaram a lagrimar, não por ver um
grande ícone da MPB, mas por estar prestes a cumprir a minha missão inicial. No
entanto, assim que comecei a dizer o porquê de estar em sua frente por
decorrência do meu quase choro a voz embargou e eu travei. Mas, por já ter
imaginado que poderia acontecer isso, pedi ainda fora do camarim para que minha
amiga/irmã Lara me auxiliasse e eis a minha sorte! Apesar de também ter ficado
com os olhos marejados de lágrimas por causa de mim, graças a Deus ela conseguiu
transmitir resumidamente o que a emoção me impediu e a missão foi cumprida
duplamente com sucesso.
Portanto, o beijo apaziguador daquele senhor, a forma em que me encontrei com o Tiago e toda a
ajuda que eu tive para realizar mais um devaneio amalucado a minha memória de
elefante sempre se encarregará de me fazer recordar e reviver com as melhores
sensações possíveis.
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